Por onde navegar?
O que consigo fazer com o que tenho à mão?
Em tempos de crise, de mudanças e padrões de trabalho, a saída sempre foi olhar para dentro e para o entorno em busca de recursos disponíveis para recomeçar.
É assim que os imigrantes tem feito ao longo da história, em tempos de catástrofes, guerras e rupturas profundas.
POR ONDE NAVEGAR?
Foi esta a frase que veio quando me entregaram o tecido rabiscado. Os traços em preto e branco nada significaram para mim, mas o mapa me atraiu junto com as histórias que percorrem territórios.
Alguns meses depois finalizo o trabalho que iniciei naquele dia. Começava, parava, olhava, guardava na gaveta, retomava e a cada dia algo ia se manifestando. Tive problemas com os tecidos que usei para colar, algumas vezes esquecia como era o ponto do bordado que tinha usado e precisava improvisar, me arrependia de um tecido usado então acrescentava tinta e outros objetos. Às vezes pensava – ih!!! errei na quantidade de tinta!, e assim fui navegando com paciência pelo tecido até um dia sentir que estava pronto.
Ao colocá-lo na parede notei que já não era mais um mapa.
Agora era a história de três mulheres: a América, linda de chapéu em forma de pássaro na cabeça, cujo ventre floresce anunciando uma gestação, observa, em estado de encantamento, a vinda das outras duas, África e Austrália.
Elas querem muito se encontrar e por isso estão sendo carregadas por animais que voam e atravessam os oceanos: a Austrália menorzinha, se desloca no bico de um pássaro azul que fala da comunicação atemporal e a África, com seus misteriosos desertos e florestas, viaja na robustez de uma imensa mosca, cuja simbologia fala da coragem e da capacidade de se adaptar às mudanças, utilizando o que está do lado, mesmo que a princípio pareça não existir.
Olho novamente para os traços onde tudo começou e agora vejo um rosto triste, cabisbaixo e virado de costas para o que está chegando.
E eu te pergunto, por qual destes lugares você prefere navegar?